miércoles, 30 de abril de 2008

noticias de brasil

Jaguar e Ziraldo vão receber uma indenização de Um milhão de reais (cada um) por terem sido presos e censurados pela ditadura.
Também terão uma pensão vitalícia de 4 mil reais por mes (cada um).
Tá dando um enorme polemica na imprensade todo o Brasil (do tipo "merece - não merece"!!!).
Veja a entrevista do Ziraldo justificando.
Santiago
Tenho dito que agora ele poderá pagar os desenhos feitos para a revista Bundas e Pasquim21 que nos últimos numeros não foram pagos !!!



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F
Ziraldo
“Não havia medo nem se tratava de
uma brincadeira sem preocupações”


reprodução


Ziraldo: “É bom contar para os
meus netos que não fiquei
assistindo de braços cruzados”

"Foi a censura mais rude imposta à imprensa brasileira", afirma o jornalista, escritor e cartunista Ziraldo Alves Pinto. Um exemplo disso foi a revista infantil que ele produzia naquele período. "A turma do Pererê deixou de circular por causa do golpe de 64, por ser uma revista muito nacionalista para a época".

Além de comentar sobre a censura que "riscava e rasgava" seus originais, Ziraldo relembra o surgimento do jornal O Pasquim. "Era um jornal que usava todo o pensamento vivo brasileiro que existia na época, com uma visão crítica e plena de humor". E acrescenta: "A gente ria muito de tudo, com a maior seriedade".

No dia primeiro de abril de 2004, o golpe militar completou 40 anos. Qual é a sua lembrança deste dia?

O golpe de 64 foi aquele susto em todos nós que, de alguma maneira, vivíamos um clima de mudança, de construção de um país, de esperança e luta. O golpe interrompeu tudo isto. Depois do susto veio o medo e depois, o desânimo. Mas houve a reação e um segundo e mais violento susto: o Ato Institucional nº 5, ou simplesmente AI-5.

Na época você produzia a revista Pererê, que foi cancelada. Havia na obra algum caráter político que justificasse a censura?

Em 60, surgiu a possibilidade de fazer essa história na revista O Cruzeiro. Criei A turma do Pererê, que era uma revista infantil. Podia contar as minhas histórias como quisesse. A revista era até um pouco, digamos, comunista para a época. O editor nem ligava. Vai ver, nem lia. A revista fazia o maior sucesso. Bastava isto para ele.

Era uma revista nacionalista, com base no folclore brasileiro. Há quem diga que a publicação A turma do Pererê deixou de circular por causa do golpe de 64, por ser uma revista muito nacionalista para a época.

Como os jornalistas passaram a lidar com a questão da censura?

Foi a censura mais rude imposta à imprensa brasileira. Uma censura que riscava e rasgava nossos originais. Era exercida por policiais no interior das redações, em misteriosos departamentos, seja lá o que for. Não podíamos ter acesso aos censores, na Polícia Federal, no Rio, ou no Ministério da Justiça, em Brasília. Era para lá que iam de avião nossos originais que retornavam destruídos.

Como nasceu O Pasquim? Com que propósito foi criado?

O Pasquim nasceu nos bares do Rio. Tudo às gargalhadas, pois se você passar duas gargalhadas em volta de um tirano, pode derrubá-lo. A gente ria muito de tudo, com a maior seriedade. O Pasquim era um jornal reunia todo o pensamento não-conformista, indignado, reflexivo, sério. Usava todo o pensamento vivo brasileiro que existia na época, com uma visão crítica e plena de humor. Tudo isso para dizer com o que não concordava, para juntar num espaço só todas as denúncias sérias, para propor soluções, informar aos jovens, convocar todos à reflexão, rir da própria desgraça como o humor exige.

Assim foi O Pasquim num determinado momento. Não havia medo nem se tratava de uma brincadeira sem preocupações. Fazíamos tudo às gargalhadas. A proposta era a de informar com muito humor. Nós nos divertíamos muito, ríamos da própria desgraça, o que é muito próprio do humor. A única certeza é que cabe ao cartunista contar a parte mais triste da história.

A censora do Pasquim, Dona Marina, ficou conhecida por ser "flexível". Como funcionavam essas negociações com ela?

A explicação é do Henfil: "Veio uma senhora chamada dona Marina, que nós descobrimos que tinha um ponto fraco: gostava de beber. Todo dia a gente botava uma garrafa de scotch na mesa dela e depois da terceira dose ela aprovava tudo. Resultado: foi despedida". A dona Marina se deu mal quando nós fomos presos. Ela aprovara um cartum que eu fiz em cima daquele quadro famoso de Pedro Américo, em que D. Pedro, às margens do Ipiranga, proclama a independência. Acrescentei um balão de fala com D. Pedro bradando: "Quero mocotó". Dona Marina deixou passar, foi destituída e encerrou a carreira.

O que significou, para você, fazer parte d’O Pasquim? O jornal tinha algum significado ou missão em particular?

Fazer O Pasquim, para mim, foi um privilégio. Não posso imaginar de que maneira poderia ter atravessado os anos de ditadura sem poder manifestar minha indignação. E de maneira tão efetiva. Foi uma sorte ter vivido nas páginas do Pasquim os anos de chumbo da ditadura militar brasileira. É bom saber disso. É bom contar para os meus netos que não fiquei assistindo de braços cruzados ao triste espetáculo do desastre que foi este tempo para o Brasil e para o nosso futuro como nação. Acho que ele cumpriu a missão dele. Com os militares voltando para os quartéis, já não tinha mais razão de ser.

Hoje, passados quarenta anos, você mudou sua análise sobre o período? Qual foi o legado da ditadura militar para o país? Houve algum aspecto positivo?

Não.Na peça "Liberdade, Liberdade", de Flávio Rangel, os protagonistas cantam uma música bonita e o público aplaude. Um dos cantores, então, pergunta: "Gostaram?" E completa: "A música que vocês acabaram de ouvir é uma das canções dos soldados de Franco (Francisco Franco, caudilho de Espanha, generalíssimo do exército, protetor da Igreja Católica e Chefe da Falange, durante sua ditadura o único partido político da Espanha)". E continua: "As ditaduras também fazem boas músicas".

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